Balada da neve
Batem leve levemente,
Como quem chama por mim...
Será chuva? Será gente?
Gente não é certamente,
E a chuva não bate assim...
É talvez a ventania...
Mas há pouco, há poucochinho,
Nem uma agulha bulia
Na quieta melancolia
Dos pinheiros do caminho...
Quem bate assim levemente,
Com tão estranha leveza,
Não se ouve, não se sente,
Não é chuva, não é gente,
Nem é vento com certeza.
Fui ver. A neve caía
Do azul cinzento do céu,
Branca e leve , branca e fria...
Há quando tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!
Olho atrás da vidraça...
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente, e, quando passa,
os passos imprime e traça
Na brancura do caminho...
Fico olhando esses sinais
da pobre gente que avança,
e noto, por entre os mais,
os traços miniaturais
duns pezitos de criança…
E descalcinhos, doridos…
a neve deixa inda vê-los,
primeiro, bem definidos,
depois, em sulcos compridos,
porque não podia erguê-los!…
Que quem já é pecador
sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!…
Porque padecem assim?!…
E uma infinita tristeza,
uma funda turbação
entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na Natureza
–e cai no meu coração.
Augusto Gil (1873-1929) - Luar de Janeiro
3 comentários:
Deve estar muito frio por aí, com essa neve toda a cair!Mas gostava que nevasse também em Abrantes, assim podia divertir-me a fazer bonecos de neve. Mas não faz mal, divirto-me com os vossos trabalhos.
Desenhos muito bonitos ilustram este belo poema. Continuem estão a fazere coisas lindas.
Eu pensava que na Holanda era bem mais frio que em Portugal. mais agora em pleno inverno e não ficou frio ainda. Parabens gosto de neve faz agente se sentir como em outro mundo. agradeço tb por seus poemas, lindo são, simples , meigos quase inocente. Ho! por Deus não mude sua maneira de trabalhar. ja não se ver hj em dia coisas assim que nos fala ao coração sem ter maldades e nem segundas inteção.. Deus te abençoe.
Graicy Oosterbaan
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