sexta-feira, 24 de novembro de 2006

As vozes dos animais



Palram pega e papagaio,
E cacareja a galinha;
Os ternos pombos arrulham,
Geme a rola inocentinha.

Muge a vaca, berra o touro,
Grasna a rã, muge o leão;
O gato mia, uiva o lobo,
Também uiva e ladra o cão.

Relingha o nobre cavalo,
Os elefantes dão urros,
A tímida ovelha bale;
Zurrar é proprio dos burros.

Regouga a sagaz raposa,
Bichinho muito matreiro;
Nos ramos cantam as aves,
Mas pia o mocho agoureiro.

Sabem as aves ligeiras
O canto seu variar;
Fazem gorgeios às vezes,
Às vezes põem-se a chilrar.

O pardal daninho nos campos,
Não aprendeu a cantar:
Como os ratos e as doninhas,
Apenas sabe chiar.

O negro corvo crocita,
Zune o mosquito enfadonho;
A serpente do deserto
Solta assobio medonho.

Chia a lebre, grasna o pato,
Ouvem-se os porcos grunhir;
Libando o suco das flores,
Costuma a abelha zumbir.

Bramem os tigres, as onças,
Pia, pia, o pintainho;
Cucurita e canta o galo,
Late e gane o cachorrinho.

A vitelinha dá berros,
O cordeirinho balidos;
O macaquinho dá guinchos,
A criancinha vagidos.

A fala foi dada ao homem,
Rei dos outros animais:
Nos versos lidos acima
Se encontram em pobre rima
As vozes dos principais.



(Versos de Pedro Dinis)

2 comentários:

Anónimo disse...

Com tantas vozes de animais, algum de vocês sabe como se chama a voz dos gafanhotos?(Se é quem têm voz!)

saltapocinhas disse...

Lindo poema!
Há que tempos não o via...
Vou copiá-lo para os Golfinhos lerem!